O acidente na partida da corrida virtual no Michigan evocou memórias de um dos dias mais negros da história da IndyCar.
Michigan 1996 pic.twitter.com/DNJaqqHu1d— CART Freak (@freak_cart) March 30, 2016
O Michigan International Speedway recebeu provas da IndyCar entre o final dos anos 60 e 2007, mas ficará sempre lembrado pelos eventos de 1996. Antes de analisar o que aconteceu nessa edição, é necessário recordar que, entre 1996 e 2007, a IndyCar esteve dividida em dois campeonatos: um conhecido por CART (por ser sancionado pela Championship Auto Racing Teams) e outro por IRL (Indy Racing League). 1996 foi assim o primeiro ano da divisão da IndyCar e, até ao final da década, a CART teve as melhores equipas e pilotos. No entanto, faltava à CART a maior corrida do mundo, uma vez que Tony George, então dono da pista de Indianápolis e fundador da IRL, tinha criado uma regra que garantia às 25 melhores equipas do "seu" campeonato a presença na Indy 500, deixando apenas oito lugares livres, o que, apesar de não proibir a participação das equipas da CART, foi interpretado como uma espécie de declaração de guerra pelos seus responsáveis.
Numa tentativa de criar a sua própria "jóia da coroa", a CART criou a U.S. 500, que se iria disputar no Michigan International Speedway. A nova corrida iria ter lugar não só no mesmo dia das 500 Milhas de Indianápolis, mas também à mesma hora, numa tentativa da CART de ofuscar a Indy 500. Com as principais equipas e estrelas do desporto motorizado da América do Norte no Michigan, os responsáveis da CART esperavam criar uma nova tradição. De facto, enquanto a maior corrida do mundo teria à partida um dos plantéis menos ilustres da sua longa história (incluindo 17 rookies), Jimmy Vasser, Paul Tracy, Alex Zanardi, Emerson Fittipaldi, Michael Andretti, Bobby Rahal, Al Unser Jr e Gil de Ferran eram apenas alguns dos pilotos que, a pilotar para equipas como a Penske, a Ganassi, a Newman/Haas e a Forsythe, iriam lutar pela vitória na U.S. 500.
No entanto, a primeira edição da prova foi um verdadeiro desastre, ilustrando na perfeição o início da era mais conturbada da história da IndyCar. Pouco depois da partida da 80ª edição da Indy 500 (ganha por Buddy Lazier), os pilotos da CART estavam prontos para iniciar a primeira U.S. 500, para a qual Jimmy Vasser tinha feito a pole position numa sessão de qualificação realizada duas semanas antes. Noutra semelhança às 500 Milhas de Indianápolis, os pilotos iram iniciar a corrida em filas de três, com a primeira a ser ocupada por Vasser, Adrian Fernández e Bryan Herta. Momentos antes da bandeira verde ser mostrada, Fernández tocou em Vasser, que depois embateu em Herta, iniciando um enorme acidente que também envolveu muitos dos carros que vinham atrás. Depois de um atraso de mais de uma hora, quase todos os pilotos afetados pelo acidente puderam recomeçar a corrida nos seus carros de reserva, uma vez que ainda não tinham "oficialmente" iniciado a prova.
Vasser ganhou a corrida, uma das suas quatro vitórias em 1996, ano em que se sagrou campeão e deu o primeiro título à Chip Ganassi Racing. Mauricio Gugelmin e Roberto Moreno ficaram em segundo e terceiro. No entanto, a U.S. 500 de 1996 ficará para sempre recordada como um momento extremamente embaraçoso para a CART, visto que as suas superestrelas protagonizaram um momento ridículo na corrida que tinha sido "vendida" pelos seus responsáveis como mais importante do que as 500 Milhas de Indianápolis devido à maior reputação dos pilotos e das equipas, que ficaram muito mal na fotografia devido ao acidente na partida. Os acontecimentos de 1996 convenceram a CART a não voltar a organizar uma corrida no mesmo dia da Indy 500, com a prova de Gateway em 1997 a ter lugar no sábado antes das 500 Milhas de Indianápolis.
O nome U.S. 500 continuou a ser a designação da corrida da CART no Michigan nos três anos seguintes, mas nunca com a mesma ambição de 1996. A prova passou a ser disputada em julho e, infelizmente, voltou a ser palco de controvérsia quando três espectadores morreram na edição de 1998 ao serem atingidos por uma roda do carro de Adrian Fernández. O Michigan International Speedway continuou a receber uma corrida da CART até 2001, antes de mudar para a IRL, permanecendo no calendário até 2007. O início da nova década foi o ponto de viragem na luta entre os dois campeonatos, com a Indy Racing League a recuperar muitas das principais equipas e pilotos devido a uma sucessão de incidentes e problemas financeiros da CART, que entrou em bancarrota no fim de 2003. O campeonato tornou-se na ChampCar, que foi depois absorvido pela IRL em 2008. As 500 Milhas de Indianápolis só recuperaram as melhores equipas e pilotos a partir de 2000, ano em que a Ganassi foi a primeira equipa de topo da CART a regressar à Indy 500.
Se o período da divisão da IndyCar em dois campeonatos é sem dúvida o mais negro da sua história, o (primeiro) dia em que as suas principais estrelas estiveram numa prova concorrente às 500 Milhas de Indianápolis e protagonizaram um dos momentos tão caricato tem de ser considerado como um dos piores dias da IndyCar, tendo causado danos incalculáveis ao prestígio das corridas de monolugares nos Estados Unidos.
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