CART Texas 2001: A última vez que uma corrida de IndyCar foi cancelada

O cancelamento das primeiras quatro corridas da IndyCar é a primeira ocasião em que uma prova é cancelada em quase 20 anos.
A rápida propagação do surto de Covid-19 tem forçado o adiamento ou o cancelamento de muitos eventos desportivos em todo o mundo, afetando também o desporto motorizado. Infelizmente, o dilúvio de cancelamentos parece ter tido o maior impacto no calendário da IndyCar, uma vez que as corridas em St.Petersburg, Barber, Long Beach e no Circuit of the Americas foram canceladas

É preciso recuar quase duas décadas para encontrar a última corrida da IndyCar a ser cancelada, algo que aconteceu à corrida da CART no Texas em 2001. Antes de analisar o que aconteceu nesse fim de semana, é necessário recordar que, entre 1996 e 2007, a IndyCar esteve dividida em dois campeonatos: um sancionado pela CART e outro pela IRL, este último composto apenas por circuitos ovais nos primeiros anos, mas que tinha a Indy 500. Se no início da divisão a CART tinha as melhores equipas e pilotos, dificuldades financeiras criadas em parte pela ausência das 500 Milhas de Indianápolis fizeram com que a balança começasse a pender para o lado da IRL. A participação da Ganassi (que tinha optado pela CART em 1996) na Indy 500 de 2000 marcou o início do declínio da CART, e, em 2001, ambas as competições já estavam praticamente ao mesmo nível.

A temporada de 2001 da CART deveria realizar a sua primeira visita ao Texas Motor Speedway, que estava agendada como a terceira prova do calendário. No entanto, a pista que ainda hoje recebe a IndyCar já pertencia ao calendário da IRL desde 1997, recebendo até duas corridas por ano a partir de 1998. Por isso, a CART também já tinha expressado o seu interesse em organizar uma corrida na pista que tinha aberto em 1997. Todavia, existiam algumas preocupações em relação a uma prova da CART no traçado, devido a razões de segurança. Essas preocupações eram motivadas pelo elevado banking das curvas, que tornaria o Texas Motor Speedway na pista com curvas de maior inclinação do calendário da CART. Apesar de a IRL nunca ter tido grandes problemas, os carros da CART eram mais rápidos do que os da IRL, com os seus motores turbo a disponibilizar mais potência, para além de terem menos força descendente do que os da IRL. Por isso, os pilotos da CART deveriam atingir velocidades mais rápidas do que os da IRL e sofrer forças G maiores do que em qualquer outra pista.



Devido a esta situação, foram realizadas várias sessões de teste na pista antes da corrida. No entanto, todas essas sessões foram privadas, com apenas uma equipa em pista de cada vez. A Penske, a Team Rahal, a Patrick Racing e a Team KOOL Green foram apenas algumas das equipas que rodaram com um ou dois pilotos quando tiveram a pista apenas para si e, já nestes testes em que os pilotos não costumam mostrar o seu verdadeiro andamento, atingiram em muitas das voltas velocidades semelhantes aos recordes dos carros da IRL. No entanto, as equipas que testaram na pista asseguraram que seria possível realizar a corrida, apesar das reservas de Mauricio Gugelmin, piloto da PacWest Racing e das dúvidas do presidente da pista.

O paddock da CART voltou ao Texas Motor Speedway no final de abril de 2001 para disputar a Firestone Firehawk 600, a primeira corrida da CART no Texas Motor Speedway. Cristiano da Matta e Hélio Castroneves tinham ganho as duas corridas até aí realizadas, com da Matta a liderar o campeonato. Nas sessões de treinos, os motores mais potentes dos carros da CART, auxiliados pelo desenvolvimento entre os testes que tinham sido realizados na pré-temporada e o início da época, fizeram com que os pilotos esmagassem os recordes da IRL. Até à entrada em pista dos carros da CART, a volta mais rápida na pista pertencia a Billy Boat que, na corrida da IRL em 1998 tinha registado uma volta a uma média de 363 km/h (225.9 mph). No entanto, os tempos mais rápidos nos treinos rondaram os 376 km/h (233.7 mph) e, no sábado de manhã, Paul Tracy fez a volta mais rápida na história do traçado, a uma média de 380 km/h (236.6 mph). Tanto Gugelmin como da Matta tiveram acidentes nos treinos, mas não sofreram qualquer lesão. Se as velocidades que estavam a ser atingidas já eram motivo de preocupação suficiente, vários pilotos queixaram-se de tonturas, não conseguindo manter o equilíbrio quando saíam dos carros. A sessão de qualificação ainda foi realizada, com Kenny Brack a fazer a pole position com uma volta de 375 km/h (233.4 mph).

No entanto, as preocupações com a segurança dos pilotos eram cada vez maiores, com muitos a relatar que tinham sentido forças G que estavam para lá dos limites que um ser humano podia tolerar, podendo causar perda de consciência ao volante. Várias opções, como reduzir a potência dos motores, foram propostas, mas não foi possível encontrar uma solução a tempo da corrida. Para o desalento dos muitos espectadores nas bancadas, a corrida foi adiada, mas nunca foi encontrada uma nova data no calendário, o que acabou por resultar no cancelamento da prova. A pista processou a CART, tendo as duas organizações chegado a um acordo em outubro. A CART ficou muito mal vista neste episódio, uma vez que a própria administração da pista já tinha manifestado a sua preocupação com as velocidades que os carros poderiam atingir.



A Penske abandonou o campeonato para entrar na IRL em 2002, com várias equipas a fazer o mesmo no ano seguinte. Para além disso, a Honda e a Toyota também trocaram a CART pela IRL em 2003, ano em que a CART entrou em bancarrota. A CART acabou por ser comprada por alguns dos diretores das equipas que participavam no campeonato, tornando-se na ChampCar. Contudo, as dificuldades financeiras permaneceram e a ChampCar foi absorvida pela IRL em 2008, terminando um dos períodos mais negros da história do principal campeonato de monolugares da América do Norte.

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